Buenas chês, hoje eu queria postar uma outra baita crônica do Veríssimo,
ou não, mas não mais a achei, tentarei postar semana que vem e hoje
vamos no embalo de últimos dias da festa da uva pra falar de vinho, um
dos subprodutos da uva que está mais em decadência, ou só é o que os
cantineiros falam para poder pagar menos da uva...
Mas então fala aí
Veríssimo sobre esse causo, ou se não é dele, ainda assim continua sendo
um baita causo, boa leitura e até mais. Link original aqui: aqui.
Você já teve o prazer de degustar um bom vinho, com um MINEIRO?
- Hummm…
- Hummm…
- Eca!!!
- Eca?! Quem falou Eca?
- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de
trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que
enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas…
- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me
cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso
tá!
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende?
Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá
como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho
e, então…
- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no…
- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!
- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens…
- Hã-hã… Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta…
- O senhor poderia começar com um Beaujolais!
- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!
- Então, que tal um mais encorpado?
- Óia lá, ocê tá brincano com fogo…
- Ou, então, um suave fresco!
- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada!
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, memo! Num é questão de
tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui
inté rima com brabuleta…
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!
- Mole e redondo, com bouquet forte?
- Agora, ocê pulô o corguim! E é um… e é dois… e é treis! Num corre,
não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua ***** fedorenta!…
(Luiz Fernando Veríssimo)
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