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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Por que pessoas de negócios falam como idiotas?

Depois de como enrolar em um discurso falando muito e dizendo pouco, vamos a mais uma postagem do gênero.
Fica a dica, leia e repense seu linguajar.
Link aqui.



QUANDO O NEGÓCIO É TORTURAR A LÍNGUA

“Sinergia”, “mudança de paradigma”, “ação estratégica”: segundo um trio de consultores americanos, esse jargão corporativo serve apenas para exprimir a mais pura… idiotice

Jerônimo Teixeira

Se duas empresas pertencentes a um mesmo grupo resolvem trabalhar em colaboração para vender melhor seus produtos, esse será apenas um fato trivial no mundo dos negócios. Uma palavra, porém, pode fazer toda a diferença. No lugar de “colaboração”, diga “sinergia”. As portas do mercado global parecem se abrir. Daí em diante, o céu é o limite: o empresário pode “ajustar seus processos para potencializar um clima organizacional que propicie o ciclo sinergístico”. Isso não quer dizer rigorosamente nada — mas impressiona, Tai estilo pernóstico e vazio permeia grande parte da cultura corporativa. Bobagens palavrosas garantem a boa vida de muito guru empresarial, do tipo que adora fazer palestras com PowerPoint — programa do Windows para apresentações de texto e imagem. Os consultores americanos Brian Fugere, Chelsea Hardaway e Jon Warshawsky cansaram de tanta besteira. Um livro escrito pelos três pretende pôr fim à embromação e restituir a clareza aos ambientes de negócios. Na busca por uma linguagem transparente, não poderiam ter encontrado um título melhor: Por que as Pessoas de Negócios Falam como Idiotas (tradução de Alice Xavier; Best Seller; 192 páginas; 24,90 reais).

DEPOIS DE ANOS DE P&D, ESTAMOS PROMOVENDO
UMA MUDANÇA DE PARADIGMAS NA REDE DE ATIVOS
ESTRATÉGICOS PARA CONSOLIDAR NOSSA POSIÇÃO NO MERCADO.

TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS:

“Contratamos uma consultoria de tecnologia caríssima
(P&D é sigla de pesquisa e desenvolvimento) que instalou um ou dois softwares novos na empresa para não sermos batidos pela concorrência”

Os autores identificam tem mecanismo de compensação psicológica no gosto dos executivos por esse palavreado que recheia reuniões e reuniões: ele confere uma aura de importância e inovação às realizações mais comezinhas. A empresa passou a trabalhar com um software mais avançado? Será mais emocionante afirmar que houve uma “mudança de paradigma tecnológico”. O recurso à linguagem empolada, porém, nem sempre é tão inocente. Com freqüência, a verborragia está lá para encobrir a negligência, a incompetência e até a fraude. Um exemplo expressivo é a seguinte frase perfeitamente vazia de sentido: “Temos redes robustas de ativos estratégicos dos quais detemos a propriedade ou o acesso contratual, o que nos dá mais flexibilidade e velocidade para, de modo confiável, fornecer soluções logísticas abrangentes”. Essa pérola faz parte do relatório anual de 2000 da empresa americana Enron. No ano seguinte, a companhia declarou falência depois que se descobriu que sua contabilidade era toda falsificada. Não por acaso, a tendência à linguagem estupefaciente é maior entre as empresas desonestas. Isso é demonstrável na análise das cartas aos acionistas que acompanham os relatórios anuais de grandes corporações. Os autores de Por que as Pessoas de Negócios… pontuaram esses textos com o índice Flesch. criado nos anos 40 pelo educador de origem austríaca Rudolf Flesch, que indica a clareza da linguagem em inglês. Quanto mais elevada a nota na escala, maior a clareza. Empresas admiradas como o Google, a General Electric e a Amazon pontuaram acima de 40. A Enron ficou com apenas 18.

INFELIZMENTE A ALOCAÇÃO DE RECURSOS EM
OUTRAS ÁREAS DE RISCO OBSTACULIZOU A REALIZAÇÃO
DO BRIEFING DO PROJETO NO PRAZO CRÍTICO DA MISSÃO.

TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS:

“Relaxei e não consegui terminar meu relatório no prazo exigido.”


Maus resultados financeiros, demissões, produtos que falham — a embromação tenta obscurecer qualquer fato desagradável. Veja por exemplo um memorando de Edgar Bronfman Jr., presidente da Warner Musíc: “Estamos anunciando hoje uma série de passos necessários à reestruturação e cruciais para o futuro do Warner Music Group. (…) É da máxima importância fazermos, tão logo possível, as mudanças necessárias para que o WMG possa continuar a progredir com redobrada força e confiança, como uma organização mais competitiva, ágil e eficiente”. O objetivo de todo esse papo-furado era anunciar um corte de 20% do pessoal. Medidas drásticas como essa são muitas vezes necessárias, especialmente em indústrias em crise. Mas encobrí-las com eufemismos como “reestruturação” ou “reengenharia” insulta os demitidos.

NOSSO CAPITAL DE CONHECIMENTO PERMITE
ALAVANCAR UM ECOSSISTEMA DE PARCEIROS
PARA AMPLIAR O VALOR AGREGADO NAS
AÇÕES ESTRATÉGICAS COM FOCO NO CLIENTE.

TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS:

“Nossa experiência será usada em parceria com outras
empresas para conquistar mais clientes.”

Talvez o maior vilão de Por que as Pessoas de Negócios Falam como Idiotas seja um programa de computador: o já citado PowerPoint. Muito usado em palestras corporativas, ele é a versão informatizada dos obsoletos projetores de slides e transparências. Com seus modelos padronizados e as facilidades que oferece para o desenho de giagramas e organogramas, tronoou-se também o veículo ideial para os clichês empresariais. Em 2003, uma equipe de técnicos da Nasa, a agência espacial americana, fez uma apresetnação em PowerPoint sobre defeitos estruturais no ônibus espacial Columbia. A exposição alertava para a possibilidade de que pedaços do revestimento dos tanques de combustível se desprendessem e atingissem a anave, causando danos graves. Só que a informação estava perdida no meio de uma tela do PowerPoint, entre outras tantas frases irrelevantes e expressões vazias como “dano significativo” (“significativo” compete com “estratégico” pelo lugar de adjetivo mais vago no jargão corporativo). Uma semana depois, o Columbia explodiu ao reentrar na atmosfera terrestre, matando os sete tripulantes. A causa do acidente: pedaçosd o revestimento que se soltaram. O jargão obscuro, como se vê, não tortura apenas a língua. Pode também fazer vítimas fatais.

ESTAMOS ANUNCIANDO UMA SÉRIE DE TRANSFERÊNCIAS
DE CAPACITAÇÃO NECESSÁRIAS PARA MANTER A VANTAGEM
COMPETITIVA. INFELIZMENTE, NO CONTEXTO DA REENGENHARIA
DO GRUPO, O SEU SETOR TERÁ DE PASSAR POR UM
DOWNSIZING.

TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS:

“Contratamos outra empresa que faz o seu serviço pela metade do preço.
Você e toda a sua equipe estão no olho da rua.”

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