Bom dia, hoje ao vivo para dar continuidade a essa nova série, com o IIº capítulo da saga, essas histórias são muito interessantes e nos fazem perceber que por trás de coisas tão normais tem intenções ocultas, o que é o caso de muitas coisas hoje em dia.
Vamos ao capítulo de hoje que obviamente o link é esse.
Era uma vez uma aldeia onde os moradores passavam as noites contando e ouvindo histórias. As preferidas eram aquelas com enredos fabulosos, mas que despertavam sensações reais, confusas, secretas. Ao redor do fogo circulavam contos sobre bruxas e princesas, belas e feras, meninas e lobos, onde sobravam fome, medo, vingança e morte. E ao final, nem sempre feliz, alguém sempre pedia: “Conte outra vez”.
Em aldeias como essa, de histórias como essas, surgiram os contos de fadas (batizados por uma senhorinha francesa insensível ao fato de que a maioria nem fada têm). Os originais medievais eram destinados a ouvintes de todas as idades, mas, uma vez eleitos favoritos da infância burguesa, foram sendo sucessivamente amenizados até chegarem às atuais versões “censura livre”.
Essas narrativas são um patrimônio abstrato da humanidade, passado adiante via voz, livros, rádio, TV, internet – e, para quem está na faixa dos 30, vinis coloridos. “Isso é absolutamente surpreendente num mundo cada vez mais mutante”, afirma o casal Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso no livro Fadas no Divã, onde fazem uma análise psicológica das histórias infantis. “Como esses restos do passado vieram parar nas mãos da crianças de hoje?”, perguntam os psicanalistas.
Nos anos 70, o austríaco Bruno Bettelheim emplacou a tese de que os contos que sobreviveram são aqueles que mais mexem com o inconsciente de narradores e ouvintes. Uma seleção natural favoreceu as histórias que reverberam na mente, que trazem nas entrelinhas questões emocionais, sexuais, familiares, universais. “No conto de fadas, o paciente encontra soluções analisando as partes da história que dizem respeito a seus conflitos”, escreve em A Psicanálise dos Contos de Fadas. Preservamos a história de Chapeuzinho não porque ela ensina a ter cuidado com estranhos, mas pelos sentimentos estranhos que ela provoca.
Nas próximas páginas, mostramos que a interpretação de clássicos como Branca de Neve, Patinho Feio e Cinderela pode ser reveladora, tanto para quem já perdeu o medo do lobo quanto para quem ainda espera pelo príncipe encantado.
Branca de Neve
Versão consagrada Sentenciada à morte por ser mais bela que a madrasta, Branca escapa e é acolhida por 7 anões. Mas a megera não sossega: disfarçada de bruxa, encontra a rival e lhe dá uma maçã envenenada. A jovem entra em coma, mas o beijo de um príncipe lhe devolve a vida. A madrasta é punida com a morte.
Outra história - Apenas no filme da Disney os anões ganharam personalidades distintas.
Interpretação - Em contos de fadas, madrasta é apenas um nome feio para mãe – neste caso, uma mãe que inveja a filha que vira mulher enquanto ela envelhece. Repare: o conflito só começa depois que o espelho informa que a madrasta não é mais a nº 1 do reino – a identidade feminina da adolescenteBranca de Neve já está em construção. E a obra se completa com um leve toque de machismo: assim como a Bela Adormecida, ela só conquista o príncipe semimorta – ou seja, inerte, quietinha, comportada, como se espera de uma boa moça.
Para maiores - Todo namorado tem um pouco de “espelho, espelho meu”, constantemente requisitado a confirmar que, sim, a parceira é a mais linda e, não, não existe mais ninguém. E que ele a ama. Pra sempre. De verdade.
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