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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O mundo é pequeno

"Boldog Karácsonyt!!"

Com esse Feliz Natal!! húngaro, que mais parece uma raça de cachorro, eu os comprimento hoje, triste pela outra vez mencionada aqui chuva de pedra, desta vez que com certeza foi muito pior, cerca de 30 cm de granizo ficaram amontoados no chão, junto com a uva também levado com esse granizo forte que atingiu de Otávio Rocha e outras cidades aqui na Serra, é triste para esses agricultores que tinham a safra de uva e outras ameaçadas pela seca até o começo desta semana, agora perderam TUDO com o forte granizo de ontem, ficam aqui os meus votos de força e perceverança, pois esperamos que seja a última vez que isso acontece. Força aí pessoal.

Depois disto, fico até sem vontade de postar hoje, mas achei uma crônica bem legal, não tão engraçada e curta, mas é legal e retrata bem esse mundo minúsculo, que até uns dias o pessoal sofria com a seca, agora foi tudo perdido com o granizo, muito triste isso, principalmente para quem teve as plantações atingidas ou que tem plantações e pensa que da próxima vez pode ser com ele. Boa leitura, até mais e esperamos que, com boas notícias.

 
Podemos perceber muito de finanças, saber o que o Pitágoras sabia, ter aberto muitas empresas de sucesso, ser barra em cálculo mental, mas não há ninguém, ninguém deste mundo que negocie o tempo ao ponto de o fazer parar.
O tempo: esse cabrão que não espera por ninguém. Podes estar apertadinho da bexiga e erguer mãozinhas a deus para não te derreteres ali, mas sabes bem que o tempo é some e segue. Entre o passado e o presente a velocidade é tanta que nem tempo temos para morrer. É pegar no morto, chorá-lo, enterra-lo, cobri-lo, e está feito. Depois, que venha outro para o lugar deste.

A vida é assim, quando pensamos que vamos para comer, somos comidos. Ou então, haver muito sexo para alegria. Enfim, o sexo é o bastante para não pensarmos que a morte nos acena do meio da rua. Só não vê quem não quer.
O Bino não vive de planos, muito menos dos inclinados. Basta-lhe ter amigos e algumas amigas. A crise faz de nós seres mais ágeis e criativos. Caminhamos muito com a esperança de chegar a algum lado. Mas quase sempre acabamos no bar do Villas a beber esperança líquida até clarificar as ideias.

E foi numa dessas ocasiões que o Bino, farto de aguçar ilusões, passou a dedicar-se aos jogos de mesa, nomeadamente o póquer, onde, uma vitória podia-lhe valer dez almoços e assim salvar uns dias da miséria estomacal. Só que em cada lugar da mesa todos andam ao mesmo: ganhar. Ali não há espaço para engraçadinhos.
Quem tentar um piscar de olhos, ou meter uma carta por debaixo da mesa, está fora e arrisca-se a um murro nos olhos.

A sobrevivência é assim: ou jogas limpo ou cais na merda. Não há duas nem três. Frita-se os miolos ao mínimo derrape. O Bino conhece as regras. É dotado de uma inteligência paranormal que não passa por assar bifes com o pensamento. Não. A queda natural do Bino é a adivinhação. Um dom inexplicável que não conta a ninguém e nem tampouco sabe de onde vem. Sabe apenas que quando se senta na mesa para jogar, o seu instinto é mais forte que um extintor. Raramente perde e, por raramente perder, vem a desconfiança e vai-se o pleonasmo.
Os parceiros da mesa interrogam-se. Ninguém deste mundo tem tanto palpite acertado. Até que num dia, após ter depenado tudo e todos com um full de ases, apertaram-lhe as goelas quase ao máximo. Por azar, um deles era o Caga-Pó, saiídinho da prisão há meio mês, olho de vidro, pulseirinha electrónica, cicatriz na face...

É nestas alturas que o tempo pára, ainda que se tente dar corda aos sapatos. O Bino tentou a fuga pelas traseiras mas o matulão pôs o corpo na frente, sorrindo com a sua falta de dois dentes. Por milagre apareceu um ex-polícia a salvar-lhe a pele e a tirá-lo dali para fora com um puxão de roupa. Foi uma sorte o Bino ter saído dali com saúde, quanto mais vivo.
O Caga-Pó bem que queria dar-lhe uma coça, mas conteve-se, sabia que o risco era alto e preferiu dirigir-lhe umas ameaças para a próxima vez que o encontrasse. Já o Bino, agora de costas forradas, exibia uma ironia desastrosa, só para o deixar em águas. E foi-se embora dali, acompanhado por aquele que, dia após dia, se tornou amigo diário, o ex-polícia.

Claro que o dinheiro dá asas e, se a gente não tem um pouco de cautela, voa mesmo, sem nunca mais aterrar. O ex-polícia - que gostava de umas coisas esquisitas - um dia teve a belíssima ideia em levar o Bino para um bacanal, que aceitou, inclusive saboreou a palavra bacanal durante um certo tempo até lhe fazer água na boca. O ex-polícia tratou de ligar a um amigo que tinha uns amigos mais umas amigas de umas amigas, e a coisa ficou tratada para o fim-de-semana próximo, sendo a discrição a única exigência, uma vez que envolve gente da alta.

O Bino ficou em pulgas.
Logo ele, que tanto intuía, nunca na vida chegou a intuir uma coisa dessas, a não ser em sonhos. No dia da festa, aperaltou-se todo, passou a semana toda a fazer abdominais e a comer saladas e frutas para aumentar o seu endurance.
A horinhas partiram, pois sabem que nestas coisas do sexo, se nos atrasamos, outros passam a frente. É a chamada lei da vantagem. Portanto foram, desportivamente falando, a darem palha aos pensamentos e a suporem se no bacanal haveria mais loiras ou morenas. Quando chegaram à casa do Ramiro, a cena estava montada, o quarto semi escuro e, dentro dele, uma enorme cama redonda. Quando os dois amigos entraram, já os casais faziam trocas e baldrocas. Uma salada russa de amor, onde, neste caso, comer em excesso não faz mal à barriga.

O Bino, antes de começar as suas manobras, sentiu uma mãozinha ao de leve nas cascas. Olhou para ver quem era, via-se mal, mas via-se que sorria. Então aproximou mais os olhos, mais ainda, até ver nitidamente o que nunca foi capaz de adivinhar: um olho de vidro, pulseirinha electrónica, cicatriz na face… Nisto, a porta fechou-se!

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