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terça-feira, 1 de abril de 2014

O amor é uma falácia

Boa noite gentes!!
4º aniversário desse humilde Blog. Baah, parece que foi ontem que eu criei ele.
Então, parece que Março foi ontem!! Nossa, que mês marcante, para min e outras 44 pessoas.
Brincadeiras a parte, não é sempre que um blog comemora 4 anos on line e ativo.
Muito obrigado pelas mais de 75 mil visitas e pelos novos seguidores e comentários, ultimamente também ando sem tempo para essa diversão, mas em breve tudo voltará ao normal.

A postagem de hoje tem uma homenageada sigilosa e trata-se de um texto estudado em aula ano passado. Pode ser longo mas é surpreendente.
O amor é uma falácia galera!! Até mais.

O AMOR É UMA FALÁCIA
 “Max Shulman”

 Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e astuto — era tudo isso. Tinha o cérebro poderoso como um dínamo, preciso como uma balança de farmácia, penetrante como um bisturi. E tinha — imaginem — só 18 anos.
 Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu companheiro de quarto na universidade, Escobar. Mesma idade, mesma formação, mas burro como uma vaca. Um bom sujeito, compreendam, mas sem nada lá em cima. Do tipo emocional. Instável, impressionável. Pior que tudo, dado a manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar-se a alguma idiotice só porque os outros a seguem, isso, para mim, é o cúmulo da insensatez. Escobar, no entanto, não pensava assim.  Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi imediato: Apendicite!
 — Não se mexa. Não tome laxativos. Vou chamar o médico.
 — Marmota... – balbuciou ele.
 — Marmota? – disse eu interrompendo minha leitura.
 — Quero um casaco de pele de marmota – gemeu ele.
 Percebi que o seu problema não era físico, mas mental.
 — Por que você quer um casaco de pele de marmota?
 — Eu devia ter adivinhado – gritou ele, dando tapas nas próprias têmporas. — Devia ter adivinhado que eles voltariam com o a moda boca-de-sino.
  — Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as aulas e agora não posso comprar um casaco de pele de marmota!
 — Quer dizer – perguntei incrédulo – que estão mesmo usando casacos de pele de marmota outra vez?
 — Todas as pessoas importantes da Universidade estão. Aonde você tem andado?
 — Na biblioteca – respondi, citando um lugar não freqüentado pelas pessoas importantes da Universidade.
 Ele saltou da cama e pôs-se a andar de um lado para o outro do quarto.
 — Preciso conseguir um casaco de pele de marmota. — Preciso!
 — Por quê, Escobar? Veja a coisa racionalmente. Casacos de pele de marmota são anti-higiênicos. Soltam pelos. Cheiram mal. São pesados, são feios, são...
 — Você não compreende – interrompeu ele com impaciência. — É o que todos estão usando. Você não quer andar na moda?
 — Não – respondi sinceramente.
 — Pois eu, sim! – declarou ele. — Daria tudo para ter um casaco de pele de marmota. Tudo!
 Aquele instrumento de precisão, meu cérebro, começou a funcionar a todo vapor.
 — Tudo? – perguntei, examinando seu rosto com os olhos semicerrados.
 — Tudo! – confirmou ele, em tom dramático.
 Alisei o queixo, pensativo. Eu, por acaso, sabia onde encontrar um casaco de pele de marmota. Meu pai usara um nos seus tempos de estudante; estava agora dentro de um baú, no sótão de nossa casa. E, também, por acaso, Escobar tinha algo que eu queria. Não era dele, exatamente, mas pelo menos ele tinha alguns direitos sobre ela. Refiro-me à sua garota, Capitu.
 Eu há muito desejava Capitu. Apresso-me a esclarecer que o meu desejo não era de natureza emotiva. A moça, não há dúvidas, despertava emoções, mas eu não era daqueles que se deixam dominar pelo coração. Desejava Capitu para fins engenhosamente calculados e inteiramente cerebrais.
 Cursava eu o primeiro ano de Direito. Dali a algum tempo estaria me iniciando na profissão. Sabia muito bem do papel da esposa na vida e na carreira de um advogado. Os advogados de sucesso, segundo minhas observações, eram quase sempre casados com mulheres bonitas, graciosas e inteligentes. Com uma única exceção, Capitu preenchia perfeitamente a todos esses requisitos.
 Era bonita. Suas proporções ainda não eram clássicas, mas eu tinha certeza de que o tempo se encarregaria de fornecer o que faltava. A estrutura básica estava lá. Graciosa também era.
Por graciosa, quero dizer, cheia de graças sociais. Tinha o porte ereto, a naturalidade no andar e a  2 elegância que deixavam transparecer a melhor das linhagens. À mesa, suas maneiras eram finíssimas. Eu já vira Capitu na cantina da Faculdade comendo a especialidade da casa – um sanduíche que continha pedaços de carne assada, óleo, castanhas e repolho – sem nem sequer umedecer os dedos.
 Inteligente ela não era. Na verdade, tendia para o lado oposto. Mas eu confiava em que, sob minha tutela, haveria de tornar-se brilhante. Pelo menos, valia a pena tentar. Afinal de contas, é mais fácil fazer uma moça bonita e burra ficar inteligente do que uma moça feia e inteligente ficar bonita.
 — Escobar – perguntei — Você ama Capitu?
 — Acho-a uma boa garota – respondeu – mas não sei se chamaria isso de amor. — Por quê?
 — Você – continuei – tem alguma espécie de arranjo formal com ela?
— Quero dizer, vocês saem exclusivamente um com o outro?
 — Não. Nos vemos seguidamente, mas saímos os dois com outros também. — Por quê?
 — Existe alguém – perguntei – algum outro homem de quem ela goste de maneira especial?
 — Que eu saiba não. — Por quê?
 Fiz que sim, com a cabeça, satisfeito.
 — Em outras palavras, a não ser por você, o campo está livre, é isso?
 — Acho que sim, bolas. — Aonde quer chegar?
 — Nada, nada. – respondi com inocência, tirando minha mala de dentro do armário.
 — Onde é que você vai? – quis saber Escobar.
 — Passar o fim de semana em casa.
 Atirei algumas roupas dentro da mala.
 — Escute. – disse Escobar, apegando-se com força ao meu braço – em casa, será que você poderia pedir dinheiro ao seu pai e me emprestar para comprar um casaco de pele de marmota?
 — Posso até fazer mais do que isso. – respondi, piscando o olho misteriosamente. Fechei a mala e saí.
 — Olhe – disse a Escobar, ao voltar na segunda-feira de manhã. Abri a mala e mostrei o enorme objeto cabeludo e fedorento que meu pai usara ao volante do seu Maverick em 1975.
 — Santo Pai! –exclamou Escobar, com reverência. Mergulhou as mãos no pêlo do casaco, e depois o rosto.
 — Santo Pai! – repetiu umas quinze ou vinte vezes.
 — Você gostaria de ficar com ele? – perguntei.
 — Sim! – gritou ele, apertando a coisa sebosa contra o peito. Em seguida, seus olhos tomaram um ar precavido. — O que você quer em troca?
 — A sua garota – disse eu, não desperdiçando as palavras.
 — Capitu? – sussurrou Escobar, horrorizado. — Você quer a Capitu?
 — Isso mesmo... Ele jogou o casaco para longe. — Nunca! – declarou resoluto.
Dei de ombros. — OK. Se você não quer andar na moda, o problema é seu...
 Sentei numa cadeira e fingi que lia um livro, mas continuei espiando Escobar, com o rabo dos olhos. Era um homem partido em dois. Primeiro olhava para o casaco, com a expressão de uma criança desamparada à vitrine de uma confeitaria. Depois dava-lhe as costas e cerrava os dentes, altivo. Depois, voltava a olhar para o casaco, com uma expressão ainda maior de desejo no rosto.
Depois, virava-se outra vez, mas agora sem tanta resolução. Sua cabeça ia e vinha, o desejo ascendendo, a resolução descendendo. Finalmente não se virou mais; ficou olhando para o casaco com pura lascívia.
 — Não é como se eu estivesse apaixonado por Capitu – balbuciou. – ou mesmo a namorando, ou coisa parecida.
 — Isso mesmo – murmurei.
 — Afinal, Capitu significa o que para mim, ou eu para ela?
 — Nada. – respondi.
 — Foi uma coisa banal. Nos divertimos um pouco, só isso...
 — Experimente o casaco – disse eu.
 Ele obedeceu. O casaco cobria as orelhas e caía até os sapatos. Ele parecia um monte de marmotas mortas.
 — Serve perfeitamente. – disse ele contente.  3
 Levantei da cadeira e perguntei, estendendo a mão: — Negócio feito?
 — Feito. – disse ele engolindo em seco e apertando a minha mão.
 Saí com Capitu pela primeira vez na noite seguinte. O primeiro programa teria o caráter de uma pesquisa preparatória. Eu desejava saber o trabalho que me esperava para elevar a sua mente ao nível desejado. Levei-a para jantar.
 — Puxa, que jantar bacana! – disse ela, quando saímos do restaurante.
 Fomos ao cinema.
 — Puxa, que filme bacana! – disse ela, quando saímos do cinema.
 Levei-a para casa.
 — Puxa, foi um programa bacana. – disse ela ao me desejar boa noite.
 Voltei para o quarto com o coração pesado. Eu subestimara gravemente as proporções da minha tarefa. A ignorância daquela moça parecia aterradora. E não seria o bastante apenas instruí-la. Era preciso, antes de tudo, ensiná-la a pensar. O empreendimento se me afigurava gigantesco, e a princípio me vi inclinado a devolvê-la a Escobar. Mas aí comecei a pensar nos seus dotes físicos generosos e na maneira como entrava numa sala ou segurava uma faca e um garfo e decidi tentar novamente.
 Procedi, como sempre, sistematicamente. Dei-lhe um curso de Lógica. Acontece que, como estudante de direito, eu freqüentava na ocasião aulas de Lógica, e portanto, tinha tudo na ponta  da língua.
 Capitu – disse eu, quando a fui buscar em nosso segundo programa. — Esta noite vamos até o parque conversar.
 — Oh, que bacana! – respondeu ela.
 Uma coisa deveria ser dita em favor da moça: Seria difícil encontrar alguém tão bem disposta para tudo.
 Fomos até o parque, o local de encontros da Universidade, nos sentamos debaixo de um velho carvalho, e ela me olhou cheia de expectativa. — Sobre o que vamos conversar? – perguntou.
 — Sobre Lógica.
 — Ela pensou durante alguns segundos e depois sentenciou: — Bacana!
 — A Lógica – comecei, limpando a garganta – é a ciência do pensamento. Se quisermos pensar corretamente, é preciso antes saber identificar as falácias mais comuns da Lógica. É o que vamos abordar hoje.
 — Bacana! – exclamou ela, batendo as palmas de alegria, coma mesma expressão de perspicácia que se esperaria da foca diante de um peixe. Fiz uma careta de desânimo, mas segui em frente, com coragem.
 — Vamos primeiro examinar uma falácia chamada Dicto Simpliciter.
 — Vamos. – animou-se ela, piscando os olhos com animação.
 — Dicto Simpliciter quer dizer um argumento baseado numa generalização não qualificada. Por exemplo: o exercício é bom, portanto todos devem se exercitar.
 — Eu estou de acordo – disse Capitu, fervorosamente. — Quer dizer, o exercício é maravilhoso. Isto é, desenvolve o corpo e tudo.
 Capitu – disse eu, com ternura – o argumento é uma falácia. Dizer que o exercício é bom é uma generalização não qualificada. Por exemplo: para quem sofre do coração, o exercício é ruim. Muitas pessoas recebem ordens de seus médicos para não se exercitarem. É preciso qualificar a generalização. Deve-se dizer: o exercício é geralmente bom, ou é bom para a maioria das pessoas.
Senão, está-se cometendo um Dicto Simpliciter. Compreendeu?
 — Não. – confessou ela. — Mas isto é bacana. Quero mais. Quero mais!
 — Será melhor se você parar de puxar a manga do meu casaco. – disse eu e, quando ela parou, continuei: — Em seguida, abordaremos uma falácia chamada Generalização Apressada. Ouça com atenção: você não sabe falar francês, eu não sei falar francês, Escobar não sabe falar francês. Devo portanto concluir que ninguém na Universidade sabe falar francês.
 — É mesmo? – espantou-se Capitu. — Ninguém? – reprimi a minha impaciência..
 —`É uma falácia, Capitu. A generalização é feita apressadamente. Não há exemplos suficientes para justificar a conclusão. Ela sorriu encantadora e retardamente.
 — Você conhece outras falácias? – perguntou ela, animada. — Isso é até melhor do
que dançar!
 Esforcei-me por conter toda a onda de desespero que ameaçava me invadir. Não estava conseguindo nada com aquela moça, absolutamente nada! Mas não sou outra coisa senão persistente. Continuei...  4
 — A seguir, vem o Post-Hoc. Ouça: Não levemos o Tiririca conosco ao piquenique.
Toda vez que ele vai junto começa a chover.
 — Eu conheço uma pessoa exatamente assim. – exclamou Capitu — Uma moça da minha cidade: Carla Perez. Nunca falha. Toda vez que ela vai junto a um piquenique...
 — Capitu – interrompi com energia. — É uma falácia. Não é Carla Perez que causa a chuva. Ela não tem nenhuma relação com a chuva. Você está incorrendo em Post-Hoc se puser a culpa na Carla Perez.
 — Nunca mais farei isso – prometeu ela contrita. — Você está bravo comigo?
 Não Capitu – suspirei – não estou bravo.
 — Então conte outra falácia.
 — Muito bem. Vamos experimentar as Premissas Contraditórias. Se Deus pode fazer tudo, pode fazer uma pedra tão pesada que Ele mesmo não conseguirá levantar?
 — É claro – respondeu ela imediatamente.
 — Mas se Ele pode fazer tudo, pode levantar a pedra.
 — É mesmo – disse ela pensativa. — Bem, então, acho que Ele não pode fazer a tal pedra.
 — Mas ele pode fazer tudo – lembrei-lhe.
 Ela coçou a sua cabeça linda e vazia.
 — Estou confusa – admitiu.
 — É claro que está. Quando as premissas de um argumento se contradizem, não pode haver argumento. Se existe uma força irresistível, não pode existir um objeto irremovível.
Compreendeu?
 — Conte outra destas histórias bacanas – disse Capitu entusiasmada.
Consultei o relógio.
 — Acho melhor pararmos por aqui. Levarei você para casa, e lá pensará no que aprendeu hoje. Teremos outra sessão amanhã à noite. Depositei-a no dormitório das moças, onde ela me assegurou que a noitada fora realmente bacana, e voltei desanimadamente para meu quarto.
Escobar roncava sobre sua cama com o casaco de pele de marmota encolhido a seus pés como um enorme animal cabeludo. Por alguns segundos brinquei com a idéia de acordá-lo e dizer que podia ter a sua garota de volta. Era evidente que meu projeto estava condenado ao fracasso. A moça tinha simplesmente uma cabeça à prova de lógica.
 Mas logo reconsiderei. Perdera uma noite, por que não perder outra? Quem sabe se em alguma parte daquela cratera de vulcão adormecido que era a mente de Capitu algumas brasas ainda estivessem vivas? Talvez, de alguma maneira, eu ainda conseguisse abaná-las até que flamejassem... As perspectivas não eram das mais animadoras, mas decidi tentar outra vez.
 Sentado sob o carvalho, na noite seguinte disse:
 — Nossa primeira falácia dessa noite se chama Ad Misericordiam.
 Ela estremeceu de emoção.
 — Ouça com atenção – comecei. — Um homem vai pedir emprego. Quando o patrão pergunta quais as suas qualificações, o homem responde que tem uma mulher e seis filhos em casa, que a mulher é aleijada, que as crianças não têm o que comer, não tem o que vestir e nem o que calçar, que a casa não tem camas, que não há carvão no porão e que o inverno se aproxima.
 Uma lágrima desceu por cada uma das faces rosadas de Capitu.
 — Isso é horrível, horrível! – soluçou.
 — É horrível – concordei – mas não é argumento. O homem não respondeu à pergunta do patrão sobre as suas qualificações. Em vez disso, tentou despertar a sua compaixão.
Cometeu a falácia do Ad Misericordiam. Compreendeu?
 — Você tem um lenço? – pediu ela, entre soluços.
 Dei-lhe o lenço e fiz o possível para não gritar, enquanto ela enxugava os olhos.
 — A seguir – disse controlando o tom da voz – discutiremos a Falsa Analogia. Eis um exemplo: Deviam permitir aos estudantes consultarem seus livros durante os exames. Afinal, os cirurgiões levam radiografias para se guiarem durante uma operação, os advogados consultam seus papéis durante um julgamento, os construtores têm plantas que os orientam na construção de uma casa. Por quê, então, não deixar que os alunos recorram aos seus livros durante uma prova?
 — Pois olhe – disse ela entusiasmada – essa é a idéia mais bacana que já ouvi por muito tempo!  5
 — Capitu – disse eu com impaciência – O argumento é falacioso. Os cirurgiões, os advogados e os construtores não estão fazendo testes para verem o que aprenderam, e os estudantes sim. As situações são completamente diferentes e não se pode fazer analogia entre elas.
 — Continuo achando a idéia bacana – disse Capitu.
 — Bolas! – murmurei. E prossegui, persistente (fazendo meia careta). — A seguir tentaremos a falácia Hipótese Contrária ao Fato.
 — Essa parece ser boa – foi a reação de Capitu.
 — Ouça: Se Madame Curie não deixasse, por acaso, uma chapa fotográfica numa gaveta junto com uma pitada de pechblenda, nós hoje não saberíamos da existência do composto químico que é o Rádio (Ra).
 — É mesmo, é mesmo – concordou Capitu, sacudindo vigorosamente a cabeça.
— Você viu o filme? Eu fiquei louca pelo filme. Aquele Walter Pidgeon é tão bacana! — Ele me fez vibrar!
 — Se conseguir esquecer o Sr. Pidegeon por alguns minutos – disse eu friamente – gostaria de lembrar que o que eu disse é uma falácia. Madame Curie poderia ter descoberto o Rádio de alguma outra maneira. Talvez outra pessoa o descobrisse. Muita coisa poderia acontecer. Não se pode partir de uma hipótese que não é verdadeira e tirar dela qualquer conclusão defensável.
 — Eles deveriam botar o Walter Pidgeon em mais filmes – disse Capitu. — Eu quase não o vejo no cinema.
 — Mais uma tentativa, decidi. Mas só mais uma. Há um limite ao que o homem pode suportar.
 — A próxima falácia é chamada Envenenar o Poço.
 — Que bonitinho! Deliciou-se Capitu.
 — Dois homens vão começar um debate. O primeiro de levanta e diz: “meu oponente é um mentiroso conhecido. Não é possível acreditar numa só palavra do que ele disser.” Agora, Capitu, pense bem. O que está errado?
 Vi-a enrugar a sua testa cremosa, concentrando-se. De repente, um brilho de inteligência – o primeiro que eu vira – surgiu em seus olhos.
 — Não é justo! Disse ela com indignação — Não é nada justo. Que chance tem o segundo homem se o primeiro diz que é um mentiroso, antes mesmo dele começar a falar?
 — Exato! – gritei exultante – Cem por cento exato! Não é justo. O primeiro homem envenenou o poço antes que os outros pudessem beber dele. Atou as mãos do adversário antes da luta começar. Capitu, estou orgulhoso de você.
 — Ora – murmurou ela, ruborizando de prazer.
 — Como vê, minha querida, não é tão difícil. Só requer concentração. É só pensar, examinar, avaliar. Venha, vamos repassar tudo que aprendemos até agora.
 — Vamos lá – disse ela, com um abano distraído de mão.
 Animado com a descoberta de que Capitu não era uma cretina total, comecei uma longa e paciente revisão de tudo o que dissera até ali. Sem parar, citei exemplos, apontei falhas, martelei sem dar tréguas. Era como cavar um túnel. A princípio, trabalho, suor e escuridão. Não tinha idéia de quando veria a luz, ou mesmo se a veria. Mas insisti. Dei duro, perfurei até com as unhas, e finalmente fui recompensado. Descobri uma fresta de luz. E a fresta foi se alargando até que o sol jorrou para dentro do túnel, clareando tudo.
 Levara cinco noites de trabalho forçado, mas valera a pena. Eu transformara Capitu em uma lógica, e a ensinara a pensar. Minha tarefa chegara a bom termo. Fizera dela uma mulher digna de mim. Estava apta a ser minha esposa, uma anfitriã perfeita para as minhas muitas mansões, uma mãe adequada para meus filhos privilegiados.
 Não se deve deduzir que eu não sentisse amor pela moça. Muito pelo contrário. Assim como Pigmalião amara a mulher perfeita que moldara para si, eu amava a minha. Decidi comunicar-lhe dos meus sentimentos no nosso encontro seguinte. Chegara a hora de mudar nossas relações, de acadêmicas para românticas.
 — Capitu – disse eu – hoje não falaremos de falácias.
 — Puxa! – disse ela, desapontada.
 — Minha querida – prossegui, favorecendo-a com um sorriso – hoje é a sexta noite em que estamos juntos. Nos demos esplendidamente bem. Não há dúvidas de que formamos um bom par.
 — Generalização Apressada – exclamou alegremente.
 — Perdão – disse eu.
 — Generalização Apressada – repetiu ela – Como é que você pode dizer que formamos um bom par baseado em apenas cinco encontros?  6
 Dei uma risada, divertido. Aquela criança adorável aprendera bem suas lições.
 — Minha querida – disse eu, dando um tapinha tolerante na sua mão – cinco encontros são o bastante. Afinal, não é preciso comer um bolo inteiro para saber se ele é bom ou não.
 — Falsa Analogia – disse Capitu prontamente. — Eu não sou um bolo, sou uma pessoa.
 Dei outra risada, já não tão divertido. A criança adorável talvez tivesse aprendido sua lição bem demais.
 Resolvi mudar de tática. Obviamente, o indicado era uma declaração de amor simples, direta e convincente. Fiz uma pausa, enquanto meu potente cérebro selecionava as palavras adequadas. Depois comecei:
 — Capitu eu a amo. Você é tudo no mundo para mim, é a lua e as estrelas e as constelações no firmamento. Por favor, minha querida, diga que será minha namorada, senão minha vida não terá mais sentido. Enfraquecerei, recusarei a comida, vagarei pelo mundo aos tropeções, um fantasma de olhos vazios... Pronto, pensei, está liquidado o assunto.
 — Ad Misericordiam – disse Capitu.
 Cerrei os dentes. Eu não era o Pigmalião: era o Frankestein, e o meu monstro me tinha pela garganta. Lutei desesperadamente contra o pânico que ameaçava me invadir. Era preciso manter a calma a qualquer preço.
 — Bem, Capitu – disse eu, forçando um sorriso. – não há dúvidas de que você aprendeu bem as falácias.
 — Aprendi mesmo – respondeu ela, inclinando a cabeça com vigor.
 — E quem foi que as ensinou a você, Capitu?
 — Foi você.
 — Isso mesmo. E portanto você me deve alguma coisa, não é mesmo, minha querida?
Se não fosse por mim, você nunca saberia o que é uma falácia....
 — Hipótese Contrária ao Fato – disse ela sem pestanejar.
 Enxuguei o suor do rosto, já lívido.
 — Capitu – insisti, com voz rouca – você não deve levar tudo ao pé da letra. Essas coisas só têm valor acadêmico. Você sabe muito bem que o que aprendemos na escola nada tem a ver com a vida.
 — Dicto Simpliciter – brincou ela, sacudindo o dedo em minha direção.
 Foi o bastante. Levantei-me num salto, berrando como um touro.
 — Você vai ou não vai me namorar? – trovejei.
 — Não, eu não vou – respondeu ela.
 — Por que não? – exigi.
 — Porque hoje à tarde eu prometi ao Escobar que seria a namorada dele.
 Quase caí para trás, fulminando por tamanha infâmia. Depois de prometer, depois de fecharmos negócio, depois de apertar a minha mão!
 — Aquele rato! – gritei chutando a grama. – Você não pode sair com ele, Capitu. É um mentiroso. Um traidor. Um rato.
 — Envenenar o Poço – disse Capitu. — E pare de gritar. Acho que gritar também deve ser uma falácia.
 Com uma admirável demonstração de força de vontade, modulei minha voz:
 — Muito bem – disse. — Você é uma lógica. Vamos olhar as coisas logicamente.
Como pode preferir Escobar? Olhe para mim: um aluno brilhante, um intelectual formidável, um homem com o futuro assegurado. E veja Escobar: um maluco, um boa-vida, um sujeito que nunca saberá se vai comer ou não no dia seguinte. — Você pode me dar uma única razão lógica para namorar o Escobar?
 — Posso, sim – declarou Capitu. — Ele tem um casaco de pele de marmota.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A importância dos estudos.

Booa noite fiéis leitores, estavam com saudades?
Eu não, ráaaa 1º de Abril...
Então hoje tenho uma postagem e junto com ela tenho que comentar algumas coisas. Primeira, esses comentários de propaganda, ou spam, serão excluídos em breve. Segunda, sempre visitei o blog, mesmo não postando nada, sempre passei aqui pra visitar. Terceira, esse semestre está punk pois tenho 8 matérias, agora tenho 2 empregos, siiiiim, mais um emprego e um Facebook, não to sobrando quase nada de tempo...
Quarta, todos vocês sabem que o que movimenta esse blog é o público, então quero a partir de hoje fazer uma proposta, quando tiver comentários, teremos postagem, vocês me ajudam a ajudar vocês, ou eu que ajudo vocês a se ajudarem, sei lá... Algo assim. Combinado, comentário, postagem. pode sugerir assunto que pesquisarei com orgulho.
Hoje esse humilde Blog completa 3 lindos aninhos e bem por isso não poderia ficar deixar passar em branco essa data. Aliado a minha situação, a postagem de hoje cai como uma luva.
Link aqui.
Feliz 1º de Abril, Feliz ano novo galera e tudibãooo.



QUANDO SE TEM DOUTORADO

O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum, (Linneu, 1759) isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo da alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera.(Linneu, 1759) No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena capacidade de deformação que lhe é peculiar.

QUANDO SE TEM MESTRADO

A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.

QUANDO SE TEM GRADUAÇÃO

O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.

QUANDO SE TEM ENSINO MÉDIO

Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel, porém não muda de forma quando pressionado.

QUANDO SE TEM ENSINO FUNDAMENTAL

Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.

QUANDO NÃO SE TEM ESTUDO

Rapadura é doce, mas não é mole, não!

domingo, 30 de dezembro de 2012

A Ferrari e o ano novo

Quero aqui desejar um ótimo ano novo a todos!!
Deixo aqui hoje uma mensagem tri boa e amanhã vamos rever uns memes que fizeram sucesso esse ano.
Até mais.
Link aqui.



Li uma entrevista com o Felipe Massa - corredor de fórmula 1 pela Ferrari - que atingiu numa reta a velocidade de 361,8 Km/h. O repórter lhe perguntou o que ele via correndo numa velocidade dessas: “Nada” respondeu ele. “Só olho para frente. Não olho para os lados”. Não dá para contemplar a paisagem, concluía ele”.
Pensando nessa resposta me veio à imagem de que estamos andando na vida como numa Ferrari. Andamos tão rápidos que não estamos vendo a paisagem e isso é muito ruim para nossas vidas.

Quantos empresários e vendedores estão numa corrida louca olhando para frente em busca de novos clientes e se esquecem de cuidar e olhar para aqueles que já são clientes. Esquecem de cuidar dos funcionários que são seus primeiros clientes.
Quantos maridos nessa corrida olham para outras mulheres e esquecem de olhar e perceber as qualidades da sua esposa. E o mesmo acontece com as esposas.
Quantos Pais correm tanto para ganhar dinheiro e esquecem de olhar para os seus filhos. esquecem de acompanhá-los, de educá-los.
Quantos filhos não têm tempo para ver, passear, ouvir e visitar seus pais.
Corremos tanto que não vemos a nossa saúde, não temos tempo para nós mesmos. O Dalai Lama diz que acha estranho as pessoas gastarem a saúde para ganhar dinheiro e depois que ganham, gastam o dinheiro para recuperar a saúde.
Corremos tanto que não estamos vendo a beleza das flores, do pôr do sol, da nossa família. Não temos TEMPO para viver e nem para Deus o autor da vida e da felicidade. Você reza? Quanto tempo você reza por dia?
Buscamos desesperados a felicidade fora, quando a temos tão perto de nós. Só precisamos ver e sentir. Mas essa corrida não deixa.
Em 2013 pare um pouco amigo. Não espere o pior acontecer para parar. Muita gente só pára quando acontece uma desgraça, uma doença grave, a morte de alguém próximo, um acidente de automóvel e por problemas econômicos graves. Aí nos perguntamos: por que Deus fez isso comigo? Será que foi Deus????
Nesse ano de 2013, organize sua vida. Trabalhe, construa uma carreira bonita, mas olhe a paisagem. Olhe a vida, olhe as pessoas, olhe para sua família, olhe para você, para seu corpo, para a beleza da vida. Olhe para Deus, reze, medite e renove seus valores. Correr tanto, deixe para o Felipe Massa, ele vive disso. As coisas que buscamos fora estão tão perto de nós, só precisamos percebê-las.Pense nisso.

(Prof. Adroaldo Lamaison)

sábado, 29 de dezembro de 2012

Muito louco

Boa noite, queria aqui agradecer uma visita vinda da Noruega!!!
Valeu!!
O link da baita postagem de hoje é esse, até mais.




Hoje de manhã, fui à feira. Antes de sair, meu patrão me pediu para eu trazer figo. Aí eu perguntei:
- Figo fruta ou bife de figo?
O homem ficou uma fera. Gente fina, seu Adamastor, num ligo não. Ele tem sistema nervoso. Também, com um emprego chato daqueles, vou te contar.
Ele é Fiscal da Receita. Deve ser um saco ficar conferindo receita de médico o dia inteiro.
Depois chegou o Adamastorzinho, o filho mais novo deles. Acabou de ganhar um carro todo equipado. Tem roda de maionese, farol de pilha, teto ensolarado e trio elétrico. Não sei por que trio elétrico num carro.
Deve ser porque ele gosta de música baiana. Ingrato esse Adamastorzinho. Fiz a comida preferida dele e ele ainda me chamou de burra.
Eu disse a ele, toda boba, quando ele chegou:
- Adamastorzinho, adivinha a comida que eu fiz pra você?
- Qual, Dircinéia?
- Começa com "i"...
- I???
- É, iiiiiii !!!
- IIIII, num sei.
- Pensa: iiiiiiiii ...
- Huuuummm, desisto.
- Istrogonofi !!!
Aproveitando a ausência dos patrões, Dircinéia pega o telefone e fofoca com a amiga Craudete:
- Cê num sabe da úrtima? Eu discubri que aqui nessa mansão que eu trabaio é tudo fachada!
- Como assim, Dircinéia? -- pergunta a colega, confusa.
- Nada aqui é dos patrão! Tudo é imprestado! TUDO!
Cê cridita numa coisa dessas? Óia só: a rôpa que o patrão usa é dum tal de Armani... a gravata é dum tal de Perre Cardine... os móveis são do tal  Luis quinzi, o carro é de uma tal de mercedes... nadica de nada é deles.
- Nooooossa, que pobreza! E além de pobre, eles são muito ixibidos, magina que ôtro dia eu escutei o patrão no telefone falando que tinha um Picasso.
- E num tem?
- Que nada, fia... é piquinininho de dá dó!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O cavalo e o Porco

Boa noite, então como dito ontem, hoje foi o dia mais esperado da matança do porco, o dia de fazer salames e torresmo, e claro, já degustar algo neh...
Então o dia de hoje é de crônicas, achei ontem quase sem querer uma que citava porcos, então vai ser postada hoje.
Link aqui e até mais.
Flw



Um fazendeiro colecionava cavalos e só faltava uma determinada raça. Um dia ele descobriu que o seu vizinho tinha este determinado cavalo. Assim, ele atazanou seu vizinho até conseguir comprá-lo. Um mês depois o cavalo adoeceu, e ele chamou o veterinário : - Bem, seu cavalo está com uma virose, é preciso tomar este medicamento durante 3 dias, no terceiro dia eu retornarei e caso ele não esteja melhor, será necessário sacrificá-lo. Neste momento, o porco escutava toda a conversa. No dia seguinte deram o medicamento e foram embora. O porco se aproximou do cavalo e disse : - Força amigo ! Levanta daí, senão você será sacrificado! No segundo dia, deram o medicamento e foram embora. O porco se aproximou do cavalo e disse : - Vamos lá amigão, levanta senão você vai morrer ! Vamos lá, eu te ajudo a levantar... Upa ! No terceiro dia deram o medicamento e o veterinário disse : - Infelizmente, vamos ter que sacrificá-lo amanhã, pois a virose pode contaminar os outros cavalos. Quando foram embora, o porco se aproximou do cavalo e disse : - Cara, é agora ou nunca, levanta logo ! Coragem ! Upa ! Upa ! Isso, devagar ! Ótimo, vamos, um, dois, três, legal, legal, agora mais depressa vai... Fantástico ! Corre, corre mais ! Upa ! Upa ! Upa !!! Você venceu, Campeão ! Então, de repente o dono chegou, viu o cavalo correndo no campo e gritou: - Milagre ! O cavalo melhorou. Isso merece uma festa... "Vamos matar o porco!" Isso acontece com freqüência no ambiente de trabalho.
Ninguém percebe, quem é o funcionário que tem o mérito pelo sucesso.. Saber viver sem ser reconhecido é uma arte, afinal quantas vezes fazemos o papel do porco amigo ou quantos já nos levantaram e nem o sabor da gratidão puderam dispor ???

Se algum dia alguém lhe disser que seu trabalho não é o de um profissional, lembre-se : Amadores construíram a Arca de Noé e profissionais, o Titanic.
PENSE NISSO E TENHA UM BOM DIA!!!!!!!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O porco

Então, sabem o que é o bom desse Blog?
Fazer uma ligação entre os acontecimentos da vida real, em esfera nacional, mundial, ou na minha própria vida com alguma postagem bem humorada ou profunda, depende o momento.
Esse é o caso de hoje, mas o mais legal ainda é que eu só fui achar a postagem no Blog da Cris.
Essa crônica é de um conterrâneo meu, Flavio Luiz Ferrarini e retrata o nosso dia de hoje e amanhã, onde foi voltado a matar o porco e fazer salames.
Boa leitura e até mais.




Começaram a me engordar há algumas semanas. Mal havia completado um ano de idade. Puseram-se num recinto de pouco mais de um metro quadrado. Instalaram uma tina para água que fica metade dentro da minha casa e metade suspensa do lado de fora. Acho que pretendem, com isso, evitar que eu faça minhas necessidades fisiológicas na água que me sacia a sede. Aparecem duas vezes ao dia: pela manhã bem cedo e ao cair da tarde. Toda vez que os ouço se aproximarem, meto-me a grunhir, pois sei que estão me trazendo uns bons pares de espigas de milho. Algumas vezes o milho vem carrunchado, porém não reclamo. Abrem uma pequena fresta na porta e, atiram meu desjejum e jantar no meio do chão. As vezes, vem seu Giocondo com suas olheiras papudas e dois tufos de cabelo saindo-lhe das orelhas e noutras vem dona Ermelinda. Seu Giocondo é um homenzarrão cujo pescoço fica acima da altura do telhado de uma água da minha casa. Para atirar as espigas precisa curvar-se tanto que a sua coluna range. Por quatro ou cinco vezes, seu Giocondo apareceu para faxinar minha casa munido de uma pá. Sempre dá conta do serviço recitando um rosário de blasfemas. Na última vez que entrou aqui, dei-lhe uma bela de uma focinhada na área desacostumada ao sol. Acho que seu Giocondo não achou a menor graça do meu atrevimento, pois meteu-se de pé de forma tão violenta que seu cocoruto furou o teto. Então berrou com toda a força dos seus pulmões: Se atreva a fazer isso de novo e irá para a faca ainda hoje. A essa ameaça, recuei de ré a um cantinho e grunhi baixinho.

A verdade é que em poucas semanas já ganhei um peso que faz tremer pratos de balança. Mal posso com meu peso. Tenho passado boa parte do tempo deitado. Perdôe-me a sinceridade, mas muitas vezes tenho que fazê-lo sobre meus próprios excrementos. Ontem, seu Giocondo apareceu mais tarde que de costume. A noite já havia enovelado os últimos fios de claridade. Seu Giocondo jogou-me apenas duas espigas de milho. Pelo que sei ... saber, não, desconfiar, esta deverá ser a ultima noite da minha curta vida. Amanhã o dia deve clarear com chuva. Dia perfeito para se matar um porco. Logo cedo, estarei pendurado no alicerce da casa, de cabeça para baixo, aberto em dois. Apesar do destino cruel que me espera não mudo minha rotina. Dou conta das duas espigas bem rapidinho. Bebo um pouco de água e tomo a deitar-me no mesmo canto das últimas três semanas. As frestas e a fragilidade das tábuas do soalho enfraquecido pela minha urina e meu imenso peso, representam perigo. De repente, posso cair lá embaixo e seu Giocondo precisará vir pescar-me com todo cuidado, pois, certamente, reconhece a qualidade da mercadoria que tem em mãos. Começa a clarear o dia. Encharcado pela chuva, seu Giocondo trás um metal que brilha. - Toca depressa, Ermelinda - diz seu Giocondo, com ar enervado.

Estremeço.

O único consolo que me resta é que serei muito apreciado depois de morto, ao contrário do que acontece com a grande maioria dos escritores.


Flávio Luis Ferrarini

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Dialeto da sua empregada

Ola tudibão??

Pois é, hoje a postagem vai para você que não entende o que a empregada fala.
O link é esse.
Até mais.


Sua mãe contratou uma empregada, mais você não entende direito o que ela fala? está meio confuso com o dialeto dela? eu SOUZA aqui do Blog TRILEGAL te dou uma ajuda para você entender o que ela diz!
Ai vai a listinha para facilitar a sua vida!!
Lidileite ........(litro de leite)
Mastumate ........(massa de tomate)
Dendapia .........(dentro da pia)
Badapia ..........(debaixo da pia)
Unkidicarne ......(1 kilo de carne)
Tradaporta .......(atras da porta)
Badacama .........(debaixo da cama)
Pingumel .........(pinga com mel)
Iscodidente ......(escova de dente)
Nossinhora .......(nossa senhora)
Pondiôns .........(ponto de ônibus)
Denduforno .......(dentro do forno)
Doidimai .........(doido demais)
Tirdiguerra ......(tiro de guerra)
Ãnsdionti ........(antes de ontem)
Secetembro .......(sete de setembro)
Sapassado ........(sábado passado)
Óiuchêro .........(olha o cheiro!)
Óikichero ........(olha que cheiro)
Vidiperfum .......(vidro de perfume)
Óiprocevê ........(olha pra voce ver!)
Tirisdaí .........(tira isso dai)
Onquié............(Onde que é?)
Quainahora........(quase na hora)
Ostrudia .........(outro dia)
Ládoncovim .......(lá de onde que eu vim)
Proncovô? ........(para onde que eu vou?)
Oncotô? ..........(Onde que eu estou?)
Simbortão?........(Vamos embora então?)
Pópô o pó?........(Pode pôr o pó? - de café)
Pópicauáio? ......(Pode picar o alho?)
Onquetá? .........(onde está?)
Dôdestongo .......(dor de estômago)
Issokipómoiá .....(isto aqui pode molhar?)
Mardufigo ........(mal do fígado)
Usvidifora .......(os vidros de fora)
Usvididetro ......(os vidros de dentro)
Usmininxegaro ....(os meninos chegaram)
Asmininxegaro ....(as meninas chegaram)
Pópegakasmão? ....(pode pegar com as mãos?)
Uventátáondi .....(o avental está aonde?)
Gáscabô ..........(o gás acabou)
Lidialcom ........(litro de álcool)

Abraços!